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TRT-13 lança Projeto Arte e Cultura com exibição do filme “Pureza” e exposição de Elioenai Gomes

Multiartista apresenta resultados de seu projeto “Kolofé – Um caminho de expansão afro cultural” no hall do edifício-sede do Regional
publicado: 02/02/2023 14h41 última modificação: 03/02/2023 15h55

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O presidente do TRT-13, desembargador Thiago Andrade, recebeu o multiartista Elioenai Gomes para tratar sobre a exposição “Kolofé – Um caminho de expansão afro cultural”

O Tribunal Regional do Trabalho da Paraíba (13ª Região) realiza na manhã desta sexta-feira (3) a exibição de filme e a inauguração da exposição “Kolofé – Um caminho de expansão afro cultural”, do multiartista Elioenai Gomes. As ações são o primeiro passo do Projeto Arte e Cultura, projeto da gestão do presidente Thiago Andrade desenvolvido pela Assessoria de Projetos Sociais e Promoção dos Direitos Humanos (Aspros).

Com o lema “TRT-13 de portas abertas”, a ideia é envolver tanto a comunidade interna do Regional quanto a sociedade em geral em ações artísticas e culturais que sensibilizem as pessoas a respeito das temáticas caras à Justiça do Trabalho, além de promover a reflexão em torno das questões sociais do nosso tempo.

A exibição de “Pureza”, do diretor Renato Barbieri, contando a história real da ativista Pureza Loyola, um dos símbolos da luta contra a escravidão contemporânea, inaugura o projeto Cinema TRT-13, que deve realizar ao longo do ano uma série de projeções de filmes seguidas por rodas de conversa sobre as temáticas abordadas.

Estão previstas ações que envolvem diversas expressões artísticas, como literatura, música, contação de histórias, e artes visuais. A exposição Kolofé, nome que significa bênção em iorubá, estará aberta para visitação no hall do edifício-sede do tribunal e apresenta oito das 17 obras produzidas pelo multiartista Elioenai Gomes, que reside há quase duas décadas no Centro Histórico de João Pessoa e busca reverenciar a herança cultural negra do Brasil por meio de suas obras.

Dono do Ateliê Multicultural Elioenai Gomes, o artista utiliza este espaço, localizado no coração do Centro Histórico de João Pessoa, para fazer ações socioculturais centradas na integração de todos os segmentos artísticos, como ferramenta de transformação e inclusão social; tais como exposições, cursos, oficinas, espetáculos teatrais, capoeira, dança, percussão, exibições de vídeos, recitais poéticos, debates e rodas de conversa, vivências, shows, entre outros. Além disso, também promove no mês de novembro o Auto dos Orixás e o Cortejo de Tambores, evento aberto que une dança, música e artes cênicas em uma cerimônia de celebração aos orixás e símbolos das religiões de matriz afro.

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A seguir, confira a conversa com Elioenai Gomes:

Quais são as obras que estão contidas nesta exposição e qual é o conceito por trás delas?

Elioenai Gomes: Kolofé fala do racismo e da questão da mão de obra escravizada que construiu esse território que hoje chamamos de Centro Histórico de João Pessoa, esta cidade que é a terceira mais antiga do país, que nasceu às margens de um rio. Nas obras, eu mostro os ícones da cultura religiosa de matriz afro, representadas em telas pretas, pintadas por um artista negro no meio da rua, em pontos estratégicos da cidade. Meu objetivo era perceber como o preconceito em torno dos ícones da cultura afro religiosa e das questões raciais se manifestava ao pintar os orixás. Ao todo, foram 17 pinturas, produzidas em 17 pontos do Centro Histórico lá em 2015. A ação por si só se tornou uma performance, pois as obras eram executadas entre um minuto e meio e seis minutos e meio. Fizemos até um documentário registrando isso tudo.

Teve algo que lhe surpreendeu durante este processo de produção das pinturas? Como foi a reação do público que não fazia ideia do que estava acontecendo ali?

EG: O que mais me surpreendeu foi que não vimos preconceito nenhum, pelo contrário. Foi uma construção coletiva, quem estava assistindo ficava tentando adivinhar que figuras estavam sendo representadas, sugeria cores e detalhes das obras. Foi uma experiência maravilhosa e tão inspiradora que o planejamento original, de 17 dias, ou seja, uma obra por dia, passou para oito. 

A exposição itinerante já passou por várias galerias de arte, espaços expositivos, mas também foi apresentada em escolas e ambientes educacionais. Qual é a importância de levar essas artes para lá?

EG: Eu levo este trabalho para as escolas com o objetivo de falar sobre a questão racial e a cultura afro religiosa, um espaço necessário em que ainda há muita dificuldade de falar sobre esses temas. Há a necessidade de abordar de forma clara e construir uma nova visão acerca destes temas. Existe uma “demonização” em torno da cultura e religiões afro dentro das escolas e a cultura é um vetor importante para que a gente acabe desconstruindo esses preconceitos e entenda a importância dessas expressões para a nossa história, né?

História essa que foi construída a partir de mãos escravizadas, trazidas de várias partes da África para cá e que carregaram consigo todos esses aspectos de suas culturas que foram marginalizados justamente por conta desse processo de desumanização que a escravidão acarreta.

EG: Isso. É por isso que eu levo essa exposição para as escolas. É resgatar essa identidade e mostrar para as crianças algo diferente do que elas costumam ouvir e reproduzir dos adultos. A gente chega nas escolas não apenas com os quadros, mas com uma roda de conversa, um pocket show com música e dança, já que também sou criador do grupo Raízes, de dança afro-indígena. As crianças, especialmente negras, ficam enlouquecidas, pois às vezes é a primeira vez que elas têm contato com pessoas iguais a elas com postura empoderada, exaltando sua própria beleza, sua identidade. É inevitável o espelhamento. 

Acredito que isso possa ajudar a mudar a forma de perceber o mundo não apenas das crianças que fazem parte de minorias, mas também das crianças brancas que estão ali e que nunca tiveram a oportunidade de ver o mundo sob outro prisma. A partir deste encontro, acabam sendo expostas a outra realidade. Creio que isso acabe sendo enriquecedor para todo mundo ali, não é? 

EG: Eu também percebo algo muito interessante quando falo com turmas de adolescentes. Eu venho da periferia, da Rua do Rio, no bairro mais antigo da cidade, Cruz das Armas, e continuo na periferia, já que o Varadouro e o Centro Histórico se tornaram ao longo do tempo periféricos também. Percebo que quando falo, há uma conexão e uma empatia com aqueles jovens que têm uma origem similar à minha. Eles se enxergam, falamos de maneira simples, sem uma postura suntuosa e formal. 

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O Ateliê Multicultural Elioenai Gomes existe há 17 anos, se tornando espaço para múltiplas realizações artísticas. Além do próprio ateliê, o espaço como um todo se tornou ponto de referência, recebendo shows de vários artistas do âmbito local, regional e nacional. Quais aprendizados este ambiente está lhe proporcionando, tanto no âmbito artístico quanto pessoal?

EG: Antes de tudo, vem sendo um movimento de autoconhecimento. Todo esse trabalho tem a ver com a minha identidade, não apenas enquanto artista, mas enquanto ser humano, enquanto homem negro, indígena, periférico. No sentido mais amplo, existencial. E a colheita tem sido muito grandiosa. Uma coisa que eu aprendo com o ateliê é a medida do sucesso. No Brasil, há uma dificuldade muito grande para o artista se inserir em um mercado construído sobre as bases do racismo estrutural. Quem é que determina a linha do que é sucesso, como esses espaços são formatados? 

O ateliê está localizado em um espaço que está à margem, então minha ideia é acolher e incluir os moradores do Centro Histórico, fazer com que eles contem suas próprias histórias e suas vivências, da troca de saberes. Também busco estimular a cadeia produtiva do turismo sustentável, pois turismo não pode ficar naquele conceito objetificado das edificações, há pessoas e pulsão criativa por trás daquelas fachadas. 

Quando eu formatei o ateliê, pensei na cultura dos quintais, algo que vem da minha infância, época em que exerci toda a minha criatividade. Na periferia, faltam brinquedos, eletrônicos, então é a criatividade que preenche essas lacunas. É no quintal também que a gente plantava muito do que a gente comia – estamos nos desconectando desse conhecimento alimentar e ficando reféns dos alimentos ultraprocessados –. O Ateliê Multicultural é o ambiente para criar e estimular essas potencialidades. Eu me alimento disso e também ofereço para as pessoas esse ambiente de troca. 

Kolofé já está em uma longa trajetória, com quase oito anos de estrada. Quais são os projetos futuros?

EG: Mesmo depois de tanto tempo, Kolofé, como seu nome deixa bem claro, continua me dando bênçãos, mas atualmente tenho outro projeto, chamado “Ori”, que vem de “cabeça” em iorubá. Eu continuo nessa busca de falar da minha trajetória de descoberta da espiritualidade, conectando o sagrado com o humanismo. Eu acredito que o sagrado está nas relações humanas, pois carregamos o universo dentro de si e conseguimos acessá-lo pelo outro também. Tento traduzir essas reflexões nesse meu novo trabalho, em uma exposição também itinerante.

André Luiz Maia
Assessoria de Comunicação Social TRT-13

 

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