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“Gisberta” comove público em apresentação no TRT-13

Espetáculo da atriz paraibana Letícia Rodrigues foi encenado no Tribunal Pleno no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+
publicado: 28/06/2023 20h19 última modificação: 29/06/2023 14h12

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Os servidores e público externo que estiveram no Auditório do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Paraíba (13ª Região) vivenciaram um momento histórico na justiça paraibana na tarde desta quarta-feira (28). Hoje, no Dia Internacional do Orgulho LGBT, uma mulher trans subiu ao palco onde rotineiramente apenas desembargadores (as) e advogados (as), geralmente cisgêneros, protagonizam suas cenas. Foi a performance de “Gisberta – Basta um nome pra lembrarmos de um ódio”, monólogo da atriz paraibana Letícia Rodrigues.

O espetáculo é uma narrativa construída em torno da história da transexual brasileira Gisberta Salce Júnior, morta em 2006 em uma circunstância brutal na cidade do Porto, em Portugal, pelas mãos de 14 adolescentes que a violentaram e a jogaram em um poço. A partir de seu assassinato, o termo “transfobia” passou a ser utilizado para definir as mortes de pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído em seu nascimento, mortes estas motivadas apenas pela sua condição.

Em pouco mais de uma hora, Letícia e sua equipe transformaram o Tribunal Pleno em um portal para transportar a todos para a história, não apenas de Gisberta, mas também da própria Letícia e das 20 meninas e meninos trans na plateia, que estão no TRT-13 participando do Programa Empregabilidade na Diversidade, que visa a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho em situação digna e segura.

Por meio da dramaturgia de Mizael Batista, Letícia tece um relato triste e cruel da violência cometida por adolescentes contra Gisberta, mas também evidencia a humanidade e a pulsão de vida que existe por trás daquele nome. Através de recursos cênicos e narrativos, Letícia busca fisgar o público pela emoção para que este enxergue junto com ela a potência de uma vida ceifada de maneira cruel e criminosa apenas por ser quem é.

Assim como Gisberta, Letícia Rodrigues também faz shows de transformismo, a arte de realizar performances e dublagens de músicas. Em um momento específico do espetáculo, há uma performance com a canção “Mudanças”, da cantora brasileira Vanusa. Lançada originalmente em 1979, em determinada parte da música, há um monólogo recitado por Vanusa, que fala sobre a emancipação da mulher em um momento de transformações da sociedade brasileira:

Hoje eu preciso

E vou mudar

Dividir no tempo

E somar no vento

Todas as coisas

Que um dia sonhei

Conquistar

 

Porque sou mulher

Como qualquer uma

Com dúvidas e soluções

Com erros e acertos

Amor e desamor

 

Suave como a gaivota

E ferina como a leoa

Tranquila e pacificadora

Mas ao mesmo tempo

Irreverente e revolucionária

 

Feliz e infeliz

Realista e sonhadora

Submissa por condição

Mas independente por opinião

 

Porque sou mulher

Com todas as incoerências

Que fazem de nós

Um forte sexo fraco

 

Hoje eu vou mudar

Vasculhar minhas gavetas

Jogar fora sentimentos

E ressentimentos tolos

Fazer limpeza no armário

Retirar traças e teias

E angústias da minha mente

 

Parar de sofrer

Por coisas tão pequeninas

Deixar de ser menina

Pra ser mulher

Ao ser colocado na boca de Gisberta (e de Letícia), a letra é ressignificada, já que, sem alterar uma vírgula sequer, ela passa a retratar a voz de libertação de corpos transexuais em uma sociedade que se habituou a ver no noticiário mortes violentas e com requintes de crueldade. Um momento poderoso, que acrescenta ainda mais voltagem ao espetáculo.

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Entrega total

Em bate-papo após a apresentação, Letícia contou ao público presente o motivo de ter feito a peça sobre Gisberta. “Há alguns anos, ao fazer espetáculos de transformismo, eu dublava ‘Balada para Gisberta’ na voz de Maria Bethânia, mas não fazia a menor ideia de quem ela era. Quando pesquisei sua história, eu me vi ali. Poderia ter sido eu. Não tinha como, precisava contar essa história”, revelou.

Letícia Rodrigues se entrega de maneira intensa à arte. Para fazer Gisberta, ela tomou uma atitude extrema: removeu alguns de seus dentes, passando a utilizar uma prótese. Em um determinado momento da peça, para retratar a brutalidade sofrida pela protagonista, Letícia remove a prótese, ficando sem os dentes da frente. “Não quis fazer esta parte em específico aqui, pois fiquei com receio de chocar demais”, confessou a atriz.

Outro momento que não foi reproduzido no TRT-13 e que particularmente choca o público que vê o espetáculo é o final, em que Letícia entra em um fosso e de lá não sai mais, mesmo após o fim do espetáculo. “Neste caso, não fizemos aqui por questões técnicas, mas a ideia é que o público sinta essa aflição, de não me ver mais no palco, mesmo após o fim de tudo. Alguém, geralmente uma pessoa trans da platéia, sobe ao palco e avisa que não sairei de lá. É intenso, mas efetivo na hora de passar a mensagem”, completou.

A estilista e multiartista Dorot Ruanne, uma das mulheres trans que estão participando do Empregabilidade na Diversidade, lançou uma provocação para fazer com que as pessoas cisgênero, ou seja, aquelas que se identificam com o gênero atribuído ao sexo biológico, da plateia reflitam sobre o assunto. “Os aplausos que tivemos aqui ao fim da peça foram para a arte de Letícia ou para a violência sofrida por Gisberta. Pergunto isso porque quando todes nós aqui sofremos o mesmo no cotidiano, não há uma pessoa que se levante e interceda por nós”, alertou.

Iluminação

As fachadas do edifício-sede e do Fórum Maximiano Figueiredo do TRT-13 foram iluminadas na noite desta quarta-feira (28) com as cores da bandeira LGBT. O ato simbólico se soma a uma série de ações que demonstram o respeito e a contribuição que a instituição faz na luta pela igualdade de direitos para as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. 

A bandeira escolhida para ser representada foi a clássica, com as sete cores do arco-íris, embora hoje já exista uma variedade de bandeiras que contemplam de maneira ainda mais ampla as mais diversas formas de ser e existir.

André Luiz Maia
Assessoria de Comunicação Social TRT-13

 

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