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13 de maio: uma data para refletir e agir contra o racismo

Para refletir sobre a transformação no entendimento em torno da data, trazemos um texto potente, produzido por uma de nossas magistradas
publicado: 13/05/2025 13h14 última modificação: 13/05/2025 17h27

O dia 13 de maio é marcado nos calendários pela abolição da escravatura, promulgada pela Princesa Isabel. No entanto, com o passar dos anos, essa data passou por um processo de ressignificação, já que o racismo e a discriminação ao povo negro não foram abolidos junto ao processo de escravização – até mesmo o trabalho análogo ao escravo não desapareceu em nossa sociedade até agora. 

Neste 13 de maio, é fundamental que todos se unam para denunciar o racismo e promover a igualdade racial. Juntos, podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Por isso, o TRT-PB reforça sua posição de repúdio ao racismo e a qualquer forma de discriminação no trabalho e em outros ambientes. E se você presenciou ou foi vítima de racismo no âmbito do TRT da Paraíba, nós temos canais disponíveis para denunciar essas situações.  

Para homenagear aqueles que lutaram e continuam lutando contra o racismo e pela justiça social, trazemos um texto potente, produzido por uma de nossas magistradas, que refletem esta transformação no entendimento em torno da data.  

Dia da Denúncia contra o Racismo.jpg

Os Pássaros Sem Asas

A assinatura da Lei Áurea libertou muitos pássaros sem asas.

Foram mais de 300 anos sem asas.

Pediram asas, mesmo sem saber voar.

Sem terra, sem teto, sem educação, sem dignidade.

O racismo ainda está organizado. Instalado nas estruturas da sociedade, nas instituições, nos discursos, nas oportunidades negadas, nos olhares atravessados.

O racismo ainda reina disfarçado de piada, de elogio enviesado, de exclusão disfarçada de “critérios igualitários” desumanos.

A princesa Isabel não nos libertou.

Ela só nos deu um novo endereço: o morro do esquecimento.

Saímos do tronco e fomos pro morro.

Como pular se não temos asas?

Sem asas.

Sem saber voar. 

Hoje ainda precisamos dar o nosso grito no dia 13 de maio.

Exigimos asas.

Precisamos voar. 

É dentro dessa realidade que eu me construo como mulher negra.

Uma identidade que carrego com orgulho, mas trago o peso de uma história silenciada. Crescer sendo mulher negra neste país é ter que aprender, cedo demais, a se defender. É ter que provar “o extraordinário”.

Sou uma dessas mulheres que sobreviveram ao que parecia impossível. Mulheres que criaram seus filhos com coragem, mesmo quando o mundo dizia que ela não seria capaz de mais nada. Que plantaram afeto onde só havia concreto duro.

É por essas mulheres, e por mim mesma, que eu falo hoje: A liberdade que celebramos neste 13 de maio é nosso grito de liberdade. 

Ainda estamos no começo dessa história, pois ainda há muito o que libertar. Ainda há muitas portas a serem abertas: na educação, nas instituições públicas, na moradia digna, nas universidades, nas empresas, nos espaços de poder.

Libertar, na verdade, é acabar com o racismo estrutural, com a violência camuflada que atinge a nossa dignidade, com a marginalização que nos empurra para as bordas.

A abolição é um processo que ainda não se exauriu. Em 1888 foi só um leve começo.

Basta de silêncio.

Hoje vamos gritar! 

A minha existência, como mulher negra magistrada, descendente de escravizados e de indígenas, é política, é histórica, é sagrada. Hoje eu quero ser a voz a todas as mulheres negras de nosso país que não conseguiram ser ouvidas, que não puderam voar. 

O 13 de maio não é somente uma data a ser marcada no calendário, mas revela um compromisso diário da sociedade brasileira com a justiça e a equidade racial.

Bom dia de Luta!

Rosivania Pereira Gomes
Juíza do Trabalho e cogestora regional do Comitê Gestor de Igualdade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT da Paraíba